02 março 2008

Baseado em fatos reais...

Todos os dias Celina levantava às 5:00 com a mãe e os dois irmãos. Tomava um café ralo com pão amanhecido que ela molhava no café para amolecer. Em meia hora os três filhos estariam prontos para mais um dia ao lado da mãe que catava papel pela cidade para sustentar a família, já que o marido foi embora e não voltou mais. Celina ainda tinha esperanças de que o pai voltasse, ele havia dito naquele dia que só ia dar uma saidinha. Ela só não entendeu por que ele precisava de uma mala para dar só uma saidinha.
O trajeto era sempre o mesmo, cerca de dois quilômetros às margens de uma avenida movimentada, com carros buzinando o tempo todo até o bairro vizinho. Lá as pessoas deixavam separado sacos de papel e plástico para a família. Algumas vezes a coleta do dia enchia o carrinho. Em outras, quase não era suficiente para o pão. De todas as casas pela quais passavam, havia uma preferida para Celina. Uma casa grande, com um muro alto e um imponente portão de ferro. Mas o que encantava a menina era o que existia atrás do portão. Todos os dias quando a empregada abria o portão para entregar os materiais para a mãe, Celina via uma beradinha da piscina que reluzia azul em meio ao quintal. Seus olhos brilhavam ao imaginar a imensidão de água cristalina que haveria ali. Por que a água do rio que passava ao lado de sua casa não era tão azul como aquela? Não era tudo a mesma água?
Naquele dia, quando estavam chegando perto do portão de ferro o coração de Celina começou a bater forte. Alguns instantes após tocarem a campainha a empregada abriu o portão trazendo uma grande sacola de papéis. Mas como havia-se feito uma faxina no escritório ainda havia outra sacola a buscar. Foi quando, inspirada pelo azul da água, uma cabecinha surgiu na fresta do portão que a empregada tinha deixado aberto e disse baixinho “Posso passar a mão na piscina?” A empregada receosa observou se os patrões não estavam por perto e acenou para a menina,” Mas só até que eu vá buscar o outro pacote ok?!”. Celina se aproximou da borda cuidadosamente, e se abaixou para que pudesse tocar a água cristalina.
Era fria... parecia penetrar em sua pele. Fazia ondas com os dedos para vê-las correrem através da superfície da água calma, imaginando como deveria ser maravilhoso banhar-se naquela imensidão cristalina.
Celina! A mãe chama do portão, com o outro pacote de papeis na mão. A menina corre para fora, sorrindo para a empregada e ao passar pelo portão dá uma última olhadinha para trás para que não se esqueça da exata tonalidade do azul daquela água.
Fechando o portão a empregada sorri ao ver a menina que segue saltitando ao lado de um carrinho lotado de papelão.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom moçoila.... só que tem uma parte de uma crueldade....

Unknown disse...

que lindo Moni!!! nao conhecia esses seus dotes!
posso esquecer de vir olhar, mas se quiser mandar seus escritos, vou adorar!
beijos grandes